Leishmaniose: uma doença silenciosa que exige atenção
A leishmaniose é uma doença parasitária negligenciada que afeta milhares de pessoas em todo o mundo, principalmente em regiões tropicais e subtropicais. Causada por protozoários do gênero *Leishmania* e transmitida pela picada de insetos flebotomíneos, conhecidos popularmente como “mosquitos-palha”, a leishmaniose pode se manifestar de diferentes formas, variando de lesões cutâneas a quadros graves que […]
A leishmaniose é uma doença parasitária negligenciada que afeta milhares de pessoas em todo o mundo, principalmente em regiões tropicais e subtropicais. Causada por protozoários do gênero *Leishmania* e transmitida pela picada de insetos flebotomíneos, conhecidos popularmente como “mosquitos-palha”, a leishmaniose pode se manifestar de diferentes formas, variando de lesões cutâneas a quadros graves que comprometem órgãos internos.
A falta de conhecimento sobre a doença, somada à precariedade de saneamento básico e medidas de controle vetorial, torna a leishmaniose uma preocupação de saúde pública em muitos países, incluindo o Brasil.
Causas e transmissão
A leishmaniose é causada por diferentes espécies de protozoários do gênero *Leishmania*, transmitidos pela picada de mosquitos-palha infectados. Esses insetos, que se reproduzem em locais úmidos e ricos em matéria orgânica, como folhas e lixo, encontram nas áreas rurais e periurbanas um ambiente propício para sua proliferação. A infecção ocorre quando o mosquito-palha pica um ser humano ou animal, como cães e roedores, que já estão infectados, transmitindo o parasita ao próximo hospedeiro.
Existem duas formas principais da doença: a leishmaniose cutânea e a leishmaniose visceral, também conhecida como calazar. A leishmaniose cutânea é a mais comum e se caracteriza por lesões na pele, que podem evoluir para úlceras dolorosas. Já a leishmaniose visceral, a forma mais grave da doença, afeta órgãos internos, como fígado, baço e medula óssea, e pode ser fatal se não tratada.
Sintomas e diagnóstico
Os sintomas da leishmaniose variam de acordo com a forma da doença. Na leishmaniose cutânea, os primeiros sinais são feridas na pele, que surgem semanas ou meses após a picada do mosquito infectado. Essas lesões, inicialmente pequenas e indolores, podem crescer e evoluir para úlceras com bordas elevadas, geralmente localizadas em áreas expostas do corpo, como rosto, braços e pernas. Em alguns casos, as lesões podem se tornar crônicas e levar à desfiguração.
A leishmaniose visceral, por sua vez, apresenta um quadro clínico mais complexo. Os sintomas incluem febre prolongada, perda de peso, anemia, aumento do fígado e do baço (hepatomegalia e esplenomegalia), e fraqueza generalizada. A doença progride de forma lenta e, sem o tratamento adequado, pode levar à morte em 90% dos casos.
O diagnóstico da leishmaniose é realizado por meio de exames laboratoriais, como a pesquisa direta do parasita em amostras de pele, medula óssea ou sangue. Testes sorológicos e moleculares também são utilizados para detectar a presença de anticorpos ou material genético do parasita no organismo do paciente.
Prevenção
A prevenção da leishmaniose envolve um conjunto de medidas destinadas a controlar a população de mosquitos-palha e a evitar o contato das pessoas com esses vetores. Entre as principais ações preventivas estão o uso de repelentes, roupas de manga longa, mosquiteiros impregnados com inseticidas e a instalação de telas em portas e janelas.
O manejo ambiental é uma estratégia essencial para a redução da incidência da doença. Isso inclui a limpeza de quintais e terrenos, a eliminação de acúmulos de matéria orgânica e lixo, e a construção de canis afastados da casa, uma vez que os cães são os principais reservatórios do parasita em áreas urbanas. Em algumas regiões, a vacinação de cães contra a leishmaniose também tem sido utilizada como uma medida complementar de controle.
Outra medida preventiva importante é o monitoramento e tratamento de animais infectados. Em áreas onde a leishmaniose visceral é endêmica, a eutanásia de cães infectados, embora polêmica, é uma prática recomendada por órgãos de saúde para evitar a disseminação da doença.
Tratamento
O tratamento da leishmaniose depende da forma da doença e da gravidade do quadro clínico. Na leishmaniose cutânea, o tratamento pode incluir a administração de medicamentos antimoniais, como o antimoniato de meglumina, por via intramuscular ou intravenosa. Em casos leves, o tratamento local com pomadas ou injeções intralesionais pode ser eficaz.
Para a leishmaniose visceral, o tratamento é mais complexo e requer a administração de medicamentos sistêmicos, como anfotericina B, um antifúngico que também é eficaz contra a *Leishmania*. Nos últimos anos, o uso de medicamentos orais, como o miltefosina, tem sido adotado em alguns países como uma alternativa menos invasiva e mais acessível.
Apesar dos avanços no tratamento, a leishmaniose continua sendo uma doença de difícil manejo, especialmente em áreas de baixa renda, onde o acesso aos serviços de saúde é limitado. A resistência do parasita a alguns medicamentos, a toxicidade dos tratamentos e a falta de alternativas terapêuticas são desafios que precisam ser superados para melhorar o controle da doença.